um ano de primeiras vezes
ou, ten seconds at a time
Mudar de país proporciona muitas “primeiras coisas”, tanto boas como ruins. Pra mim, foi a primeira viagem internacional, primeira vez indo morar longe da minha mãe, primeira vez vendo neve, primeira vez botando o inglês pra jogo na vida real fora das conversas imaginárias dentro da minha cabeça! Mais alguém faz isso? Eu fazia o tempo todo, inventava situações hipotéticas ou criava diálogos com o Gustavo todos em inglês e achava que eles soavam muito melhores do que em português! Agora é o contrário, todos os diálogos são criados e ensaiados em português pra depois serem simultaneamente traduzidos para o inglês ou francês! Ah! Também é a primeira vez que fico ensaiando antes de falar! Coloco a frase no Google Tradutor, escuto a pronúncia, repito em voz alta umas duas vezes e depois ligo!
Aliás, meudeusdocéu que país que AMA uma ligação! Te ligam pra tudo, ninguém usa whatsapp, é tudo por telefone, pro meu desespero! Mas é o ano das primeiras vezes e agora eu até atendo!
Antes de vir, elencamos algumas coisas que eram obrigatórias de fazer assim que chegássemos:
Tomar café no Tim Hortons (check)
Comer Poutine, o prato típico daqui que consiste em batata frita, com um molho de carne que lembra um molho madeira, coberto com queijo. (check)
Tomar um café da manhã com panquecas e maple syrup. (check)
Também temos uma lista de animais que queremos ver ( guaxinim, raposa, urso e alce) e lugares que queremos visitar. Além disso já pegamos nosso primeiro frio de -30°C, andei de metrô, vi neve, chorei no metrô, conheci pessoas de todos os cantos do mundo, comi comidas novas, precisei ouvir o farmacêutico falar da minha “vadjáina” pelo telefone só pra conseguir um simples remédio de candidíase! Sério, tô rindo, mas tô chorando!
Tudo isso me fez perceber que o Canadá, para além de todas as mudanças gigantes, me transformou numa pessoa não tímida! Eu puxo conversa com desconhecidos, falo com estranhos, atendo telefone, sento na primeira fila da sala de aula, sou best dos professores. Nem eu sei que Amanda é essa, portanto me apresento: Olá, meu nome é Amanda e eu sou uma ex-tímida! Até me candidatei pra fazer um tiktok tipo “a day in my life” para o college! Não só fiz, como narrei tudo em inglês. Mas eles cortaram tudo e fizeram um versão mais cool e descolada, porque precisava parecer xóven!
Tá aqui, caso queiram ver: xóven no tiktok
Hoje, escrevo essa newsletter de um Tim Hortons, no meio do nada, pois tive mais uma primeira vez: levar um gato no veterinário. Descobri por indicações no instagram uma clínica que tem uma veterinária brasileira. Achei que seria mais fácil esse primeiro contato em português, pois a Anabela já tinha ficado doente um mês antes de viajarmos. Pesquisei no maps, e levaria 1 hora pra chegar na clínica de metrô + ônibus. O que não seria um problema se eu estivesse sozinha e não tivesse horário pra chegar. Hoje fez frio, muito frio! -12°C com neve e sensação térmica de -19°C. Vim de Uber. Chegando na clínica a atendente me disse: ok! Agora a doutora vai examinar ela, fazer os exames e te liga quando estiver tudo pronto!
Demorei uns segundos pra absorver a informação, processar, traduzir, formular uma resposta em português, traduzir pro inglês até falar: mas eu não vou conversar com ela? Explicar o que está acontecendo? E ela disse: não! A doutora te liga depois pra explicar tudo. Entreguei a Anabela quentinha na sua caixinha, com seu cobertor de nuvem e saí como quem sabe o que está fazendo!
E aí, lá estava eu, há uma hora de casa, no meio de um distrito industrial, no meio de uma rodovia, do lado do aeroporto, no meio do nada! Saí da clínica, sentei no ponto de ônibus e chorei! Aliás, morar fora significa chorar todo dia! De tristeza, saudade, emoção, felicidade, raiva, medo, porque o comercial do youtube era bonito, porque teu marido lembrou de comprar chocolate, porque teu marido esqueceu de comprar chocolate… E cara, chorar numa sensação térmica de -19°C é um acontecimento! Descobri pelo maps que tinha um Tim Hortons há 15 minutos a pé, praticamente em linha reta. E cá estou!
Agora acho que falta só meia hora pra veterinária me ligar. (spoiler do futuro, não faltava. Esperei mais duas horas!) Tem wi-fi, completei meu formulário de emprego! Sim! Tenho um emprego agora! Na mesma loja que o Gustavo já trabalha! Ironias da vida, vamos voltar a trabalhar juntos, agora não como sócios arquitetos, mas como vendedores de roupa! As tais das primeiras vezes né?! Aproveitei pra chorar as pitangas com uma amiga que também está vivendo as suas primeiras vezes lá na Inglaterra.
Enquanto espero, fico de olho na câmera que instalamos em casa pra controlar os cachorros! É o reality show mais monótono de todos os tempos! Só dormem! Nem saem do quarto! A Amora latiu duas vezes e ficou meio confusa quando ouviu a minha voz mandando ela ficar quieta! Mas ficou! O Pantufa é tão grande que quando ele finalmente se mexeu o aplicativo notificou: “human body movement!” Aliás, nossa câmera se chama Bial, mas não manda passar protetor solar!
No fim das contas fiz tanta coisa que até passou rápido. É como a Kimmy já me ensinou: “10 seconds at a time” e você aguenta tudo. Clique aqui pra ver o vídeo completo!
Tudo que preciso agora é saber que a Anabela vai ficar bem, ir pra casa e chorar mais um pouquinho!
Ah! Caso você esteja curiosa: Tim Hortons é mil vezes melhor que Starbucks! E mais barato tbm!
Caso esteja curiosa sobre a Anabela : problema renal, estágio 1. Coisas de gatos velhinhos. Descobrimos no começo, pode ser que ela tenha meses ou anos de vida…10 seconds at a time!